quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Síndrome da Tesoura

A tesoura é um objeto escolar que, nos últimos anos, deveria ter sido melhor analisada. As professoras de nível pré-escolar acabam, muitas vezes, negligenciando a orientação de como usar corretamente esse objeto e as educadoras do Ensino Fundamental nem lançam olhar sobre os sinais importantes que o uso excessivo da tesoura podem trazer ao trabalho escolar.
A maior parte do tempo que leciono foi dedicada ao ensino de crianças em idade de alfabetização. Em noventa por cento das vezes que ensinei essas crianças, tive que ensinar como pegar corretamente na tesoura, pois quase sempre a criança não havia tido orientação anterior de como fazê-lo. Além de apresentarem um corte horroroso – já que não conseguem nem seguir a linha de corte – ainda possuem tão pouca coordenação motora fina, advinda também pela falta de uso correto da tesoura, que quando iniciam o traçado da letra cursiva apresentam garranchos. O uso dos objetos escolares são excelentes treinos para a aquisição de coordenação motora suficiente para diversas habilidades necessárias nos alunos. Muitos não se dão conta disso, mas é verdade totalmente ‘verdadeira’.
Além desse pequeno problema de orientação sobre o procedimento de utilização da tesoura, há ainda um outro muito mais grave, o qual acabei nomeando de ‘Síndrome da Tesoura’ por falta de nome adequado ao mesmo.
Há anos tenho notado e comentado que TODOS os alunos com problemas de aprendizagem ou resistência de registro escrito costumam permanecer durante o período de aula com a tesoura na mão. Não sei dizer o motivo deste comportamento, porém posso dizer que tenho certeza mais que absoluta que há alguma relação desse objeto com os problemas apresentados pelo aluno durante o período de aula.
Na primeira vez em que percebi, foi numa classe de sétima série, em 2.001. Havia um aluno dito superdotado, que costumava ficar sem nada fazer e permanecia o tempo inteiro de minha aula – dupla – com sua tesoura na mão. Isso aconteceu durante o ano inteiro em que fiquei com ele. Depois dessa experiência, notei que todos os alunos com algum tipo de problema tinham o mesmo comportamento. Alunos com problemas de sociabilização, alunos com déficit de atenção, alunos com atenção demais na sala, alunos que não terminavam ou não faziam suas lições e muitos outros casos sofriam do mesmíssimo mal: a Síndrome da Tesoura.
Não fiz Psicologia, mas gostaria muito de saber qual relação esses alunos têm com a tesoura, que acaba deixando-os tão seguros. Se eu tivesse mais conhecimento na área, certamente já teria feito uma melhor análise. Em um curso extensivo de consciência fonológica, uma fono me disse que a dislexia pode ser hereditária ou adquirida, por conta de hábitos familiares. Acho que a Síndrome da Tesoura pode, da mesma forma, ser adquirida e ela serve para ocultar problemas muito maiores – os alunos sem diagnóstico.
O jeito é olhar melhor para esses alunos e pensar… o que será que todos têm em comum para que uma simples tesoura seja objeto de tamanha adoração. Se você tiver notado isso em sua sala de aula e souber me responder, por favor o faça, pois há anos detecto esse problema e há anos tento decifrá-lo sem êxito.

Um comentário:

  1. Oi, parabéns pelo blog.

    estou utilizando seus textos e passei para pedir sua permissão. Estou lendo atentamente as matérias e a propósito, este ano vou observar as tesouras em minha sala de aula. Vou trabalhar com o 2º ano - Fundamental .

    Gostaria de tê-la como seguidora de meu blog e quem sabe sermos boas amigas da educação.

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